
Há uma passagem do livro “Assim falou Zaratustra”, de Nietzsche, na qual Zaratustra cede às lamúrias de um anão que o seguia. Queixando-se de fragilidade, o anão suplicava amor e amizade a Zaratustra, e lhe pedia para ir em seus ombros. Uma vantagem o anão disse que Zaratustra extrairia desse favor: o anão veria o caminho e guiaria Zaratustra. Então, Zaratustra instalou o anão sobre seus ombros e seguiu sua viagem. Porém, não seguiu muito, pois logo o anão começou a advertir Zaratustra dos perigos do caminho, perigos estes que o anão acreditava ver logo ali adiante. Zaratustra, contudo, nada via. O anão insistia, desesperado. Afirmava que logo ali havia um abismo, e antes deste um muro, e antes destes ainda ladrões, e lobos, e armadilhas, e a maldade, enfim. Chorando pelo infortúnio dos dois, já se imaginando roubados, envenenados, traídos, mordidos, dilacerados, enfim, vencidos, o anão julgou que o melhor seria parar, sentar, talvez se ajoelhar, e implorar ao destino perdão. Zaratustra já se inclinava para prostrar-se derrotado quando, de repente, um grito veio de dentro dele e protestou : “Pera lá, anão! Você quer é me submeter à tua covardia, às tuas pernas curtas!”. Livrando-se das seduções da autopiedade, Zaratustra expulsou o anão de suas costas. Foi a voz da vida, da vida que resiste e avança, que protestou contra a resignação que já tomava conta do querer de Zaratustra. Em alguns, essa voz se faz alta para acordar quem dorme para a vida; noutros, nos já despertos, ela apenas canta, como em Cartola ou Orfeu, ou sabe se transfigurar em assobio, como em Manoel.
"Eu não tenho nada contra o Cinema Novo. Só acho que a gente tem que se decidir: ou faz fita para agradar os intelectuais (uma minoria que não lota uma fileira de poltronas de cinema) ou faz para o público que vai ao cinema em busca de emoções diferentes. O público é simples, ele quer rir, chorar, viver minutos de suspense. Não adianta tentar dar a ele um punhado de absurdos: no lugar da boca põe o olho, no lugar do olho põe a boca. Isso é para agradar intelectual." Amacio Mazzaropi.
Um dos momentos mais bonitos da tevê brasileira no programa Chico & Caetano. Repare, logo no início, quando violino e bandoneon dialogam, chorando. Repare ainda as expressões de êxtase de Chico e Caetano e, depois a corrida de Chico, para beijar o Astor Piazzolla durante os aplausos. Nesta interpretação o tango foi elevado à categoria de música erudita.
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